Polissemia ou homonímia?
- lleticiabstee
- 5 de nov.
- 3 min de leitura

Por vezes, há uma confusão entre polissemia e homonímia, que são duas relações semânticas distintas entre as palavras. A polissemia consiste ma multiplicidade de sentidos possíveis que uma mesma palavra pode assumir a depender do contexto. A homonímia, por sua vez, é a coincidência fonética ou gráfica entre duas palavras diversas. Para entender melhor essa distinção, confira os exemplos a seguir.
1) Coloquei um piercing na língua.
2) A língua portuguesa é muito rica.
No exemplo 1, “língua” designa uma parte do corpo. No exemplo 2, refere-se ao idioma. Neste caso, trata-se de uma mesma palavra que pode assumir significados distintos em contextos igualmente distintos. Falamos, por isso, em polissemia.
3) O cérebro é um órgão vital.
4) Ele era o cérebro do grupo.
No exemplo 3, “cérebro” refere-se ao órgão. Já no exemplo 4, “cérebro” corresponde a líder. Mesma palavra, sentidos diferentes. Mais uma vez, estamos diante de um caso de polissemia.
5) Sempre cedo meu lugar aos idosos.
6) Cheguei cedo ao trabalho.
No exemplo 5, “cedo” é a forma flexionada em primeira pessoa singular, no presente do indicativo, do verbo “ceder”. Enquanto isso, no exemplo 6, “cedo” é advérbio de tempo. Notoriamente, além das classes gramaticais distintas, não há compartilhamento nem proximidade de sentido entre as duas palavras – são palavras diversas. Trata-se, portanto, de homonímia.
7) O concerto começou pontualmente.
8) Paguei o conserto do guarda-roupa.
No exemplo 7, a palavra “concerto” indica espetáculo musical. No exemplo 8, significa reparo. Embora ambas sejam substantivos, o que há é mera coincidência fonética – as palavras pronunciam-se da mesma maneira –, sem qualquer coincidência de origem ou proximidade de sentido. Novamente, ocorre aqui a homonímia.
DICA:
Repare que, na polissemia, os múltiplos sentidos que perpassam uma palavra em diversos contextos compartilham certo “fio” semântico, isto é, ramificam-se de um sentido básico originário. Nos exemplos 1 e 2, note que a palavra “língua” se comporta dessa maneira – “língua” pode ser o idioma (sistema de comunicação por meio da escrita ou da fala) ou o órgão usado para pôr em prática a comunicação através da fala. A mesma relação é observada entre os sentidos de “cérebro” (exemplos 3 e 4): o órgão tem papel central no comando das demais funções corporais, assim como um líder comanda, norteia o grupo por ele liderado.
Diferentemente da polissemia, na homonímia, não há esse “fio” semântico que conecta as ocorrências vocabulares, pois são, de fato, palavras distintas. Além disso, nem a etimologia (isto é, a origem das palavras) é a mesma. O que se verifica é mera coincidência, que faz com que as palavras sejam escritas e/ou pronunciadas da mesma forma. Entre “cedo” (verbo) e “cedo” (advérbio) – exemplos 5 e 6 –, assim como entre os substantivos “concerto” e “conserto” (exemplos 7 e 8), é exatamente isso que acontece.
É claro que não precisamos conhecer a etimologia de todas as palavras, mas é possível perceber se há conexão entre os sentidos gerados pelos contextos (polissemia) ou se tudo não passa de uma simples coincidência – palavras iguais com sentidos completamente diferentes (homonímia).
Curiosidade: o caso “manga”
9) A manga da camisa estava rasgada.
10) Caiu uma manga da árvore.
A palavra “manga” pode referir-se a uma parte da vestimenta (exemplo 9) ou à fruta (exemplo 10) – em ambos os casos, é substantivo. Por pertencer à mesma classe morfológica nos dois usos, sem qualquer distinção gráfica ou fonética, muitos acreditam que seja um caso de polissemia. Porém, o caso “manga” exemplifica a ocorrência de homonímia. Isso porque, com sentido de parte da vestimenta, tem origem no latim, enquanto, representando a fruta, tem origem do malaio. Observe, ainda, que esses sentidos não têm nada a ver entre si – não compartilham aquele “fio” semântico –, revelando que se trata realmente de homonímia.
Bons estudos! Até a próxima!
